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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Literatura de Cordel: a literatura popular no país da falatória

O que é literatura de cordel

Literatura de Cordel é, como qualquer outra forma artística, uma manifestação cultural. Por meio da escrita são transmitidas as cantigas, os poemas e as histórias do povo — pelo próprio povo.
O nome de Cordel teve origem em Portugal, onde os livretos, antigamente, eram expostos em barbantes, como roupas no varal.
Literatura de Cordel - Os livros são pendurados em barbantes

Origens da literatura de cordel

As primeiras manifestações da literatura popular no ocidente ocorreram por volta do século XII. Peregrinos encontravam-se no sul da França, em direção à Palestina; no norte da Itália, para chegar à Roma; e ainda na Galícia, no santuário de Santiago.
Nesses encontros eram transmitidas as histórias e compostos os primeiros versos, de forma muito primitiva.
O que interessa para nós é que foi dessa forma que surgiram os primeiros núcleos de cultura regional que espalharam-se pela Europa e, posteriormente, pela América.

A literatura de cordel no Brasil

Devido ao atraso da chegada da imprensa por aqui e seu acesso pelo público, as produções literárias de populares tiveram seu apogeu apenas no século XX.
Nossa literatura de cordel é caracterizada, principalmente, pela poesia popular. A prosa aparece muito mais na forma oral, que passa de geração para geração.
Como é uma manifestação muito mais cultural do que intelectual, destaca-se em regiões onde a cultura é mais valorizada e delineada. Aqui no Brasil essas regiões são a Nordeste e a Sul.

Grandes autores da poesia popular brasileira

Centenas, talvez milhares de autores poderiam ser listados aqui, mas vou falar dos três mais conhecidos.

Leandro Gomes de Barros

Foi o mais importante e mais famoso autor da literatura de cordel brasileira. Seu livreto “O Cachorro dos mortos” vendeu mais de um milhão de exemplares.

João Martins de Athayde

Autor popular que mais produziu. Comprou os direitos autorais de Leandro Gomes de Barros quando da sua morte, passando a editar também seus poemas.

Cuíca de Santo Amaro

O mais terrível poeta popular. Fazia denúncias contra corruptos e poderosos de sua época. Era amigo íntimo de Jorge Amado, que o incluiu como personagem em seus Tereza BatistaCansada de Guerra e no conto A morte de Quincas Berro D’água.

Afinal, temos ou não um país de leitores?

Não, não temos. Com o caos social que vivemos hoje, a urbanização e, sim, a marginalização dos antigos camponeses, a literatura de cordel mudou bastante, refletindo agora a nova realidade que o povo vive.
Tudo isso não significa que o brasileiro lê mais ou menos. Significa que a literatura popular está longe de desaparecer e continua aí para, talvez, ser uma primeira opção na luta pela difusão da leitura no Brasil.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tudo é literatura

capa_Rayuela
O Jogo do Mundo (Rayuela)
Autor: Julio Cortázar
Título original: Rayuela
Tradução: Alberto Simões
Editora: Cavalo de Ferro
N.º de páginas: 631
ISBN: 978-989-623-079-1
Ano de publicação: 2008
Obra-prima de Julio Cortázar, Rayuela é uma das narrativas que mais influenciaram os escritores latino-americanos da segunda metade do século XX. Que só agora seja publicada em Portugal, com 45 anos de atraso, diz bem da indiferença a que foi votada no nosso país, durante muito tempo, alguma da melhor literatura estrangeira. Saúde-se então a Cavalo de Ferro pela iniciativa de suprir esta imperdoável lacuna, ainda por cima numa magnífica tradução de Alberto Simões, que resgata quase sem mácula a força poética, o fôlego e a cadência da prosa torrencial do escritor argentino. Eis, desde já, a par de O Homem Sem Qualidades, de Robert Musil (Dom Quixote), um forte candidato a livro do ano.
O enorme impacto de Rayuela (à letra, o infantil “jogo da macaca”, desenhado no chão com giz; imagem recorrente em vários dos planos narrativos) deveu-se sobretudo ao seu experimentalismo formal. Como se diz logo de início numa “tábua de orientação”, o livro “é muitos livros”, na medida em que a ordem pela qual devem ser lidos os seus 155 capítulos depende apenas da vontade (ou dos caprichos) do leitor. Cortázar sugere duas escolhas possíveis: 1) começar no primeiro capítulo e acabar no 56, seguindo o esquema habitual, o que implica prescindir do último terço do livro; 2) ler a obra na íntegra, mas seguindo uma sequência irregular de capítulos: 73, 1, 2, 116, 3, 84, etc. Na verdade, qualquer ordem é válida (mesmo a leitura de trás para a frente), o que multiplica as abordagens possíveis a esta ficção aberta.
Dito isto, há três núcleos principais a que os fragmentos narrativos se agregam. Na primeira parte, ‘Do lado de lá’, acompanhamos a vida do argentino Horacio Oliveira em Paris, onde se apaixona por uma uruguaia (Maga), discute interminavelmente com um grupo de amigos artistas (O Clube da Serpente) e encontra, por mero acaso, o seu escritor-guru (Morelli). Na segunda parte, ‘Do lado de cá’, Horacio regressa a Buenos Aires, reencontrando um velho amigo (Traveler, que se revela uma espécie de duplo), a mulher deste (Talita, na qual projecta a memória de Maga) e uma galeria de personagens secundárias, com as quais se cruza primeiro num circo e depois num manicómio. Por fim, a terceira parte, ‘De outros lados’, compõe-se de 99 “capítulos prescindíveis”, onde cabe tudo e mais alguma coisa: citações de pensadores e poetas, notícias de jornal, notas do acervo de Morelli, pequenos ensaios, aforismos ou episódios soltos que ajudam a esclarecer certos factos e a definir traços psicológicos.
No fundo, não há nada que o livro enjeite, na sua ânsia de absorver, por exemplo, a cidade de Paris – esse novelo de “matéria infinita enrolando-se sobre si mesma”, logo transformada numa “enorme metáfora”. Como diz alguém: “Tudo é literatura, isto é, fábula.” À semelhança de Morelli, que sonha escrever uma obra “onde o micro e o macrocosmos se unissem numa visão fulminante”, assumindo o “texto desalinhado, desordenado, incongruente, minuciosamente anti-literário (mas não anti-romanesco)”, Cortázar vai contra os “hábitos mentais” e rebenta com as fórmulas clássicas de contar uma história, consciente de que é preciso “desescrever” e “incendiar a linguagem”, para a libertar. Algo que só se consegue com a cumplicidade do leitor, arrancado à força da sua tradicional atitude passiva.
Mesmo quando arrisca mais, ao narrar uma cena erótica com palavras inventadas (o “gíglico”, dialecto dos amantes) ou ao fundir dois textos num só (em linhas alternadas), Rayuela nunca soçobra na mera pirotecnia, no virtuosismo estéril. Romance de ideias (não apenas literárias), muitas das suas reflexões mantêm uma impressionante actualidade e algumas delas anteciparam mesmo agitações futuras. Como quando Cortázar questiona, cinco anos antes do Maio de 68: “E o que é que quer dizer viver de outra maneira? Talvez viver absurdamente para acabar com o absurdo, deixar-se cair em si mesmo com uma tal violência que a queda acabasse nos braços do outro.”

Debate

Ficheiro:Old book bindngs.jpg
Detalhe de alguns livros raros da biblioteca do Merton College, no Reino Unido
Mais produtivo do que tentar definir Literatura talvez seja encontrar um caminho para decidir o que torna um texto, em sentido lato, literário. A definição de literatura está comumente associada à ideia de estética, ou melhor, da ocorrência de algum procedimento estético. Um texto é literário, portanto, quando consegue produzir um efeito estético e quando provoca catarse, o efeito de definição aristótélica, no receptor. A própria natureza do caráter estético, contudo, reconduz à dificuldade de elaborar alguma definição verdadeiriamente estável para o texto literário. Para simplificar, pode-se exemplificar através de umacomparação por oposição. Vamos opor o texto científico ao texto artístico: o texto científicoemprega as palavras sem preocupação com a beleza, o efeito emocional. No texto artístico,ao contrário, essa será a preocupação maior do artista. É óbvio que também oescritor busca instruir, e perpassar ao leitor uma determinada ideia; mas, diferentemente do texto científico, o texto literário une essa instrução à necessidade estética que toda obra de arte exige. O texto científico emprega as palavras no seu sentido dicionarizado, denotativamente, enquanto o texto artístico busca empregar as palavras com liberdade, preferindo o seu sentido conotativo, figurado. O texto literário é, portanto, aquele que pretende emocionar e que, para isso, emprega a língua com liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do sentido metafórico das palavras.
A compreensão do fenômeno literário tende a ser marcada por alguns sentidos, alguns marcados de forma mais enfática na história da cultura ocidental, outros diluídos entre os diversos usos que o termo assume nos circuitos de cada sistema literário particular.
Assim encontramos uma concepção "clássica", surgida durante o Iluminismo (que podemos chamar de "definição moderna clássica", que organiza e estabelece as bases de periodização usadas na estruturação do cânone ocidental); uma definição "romântica" (na qual a presença de uma intenção estética do próprio autor torna-se decisiva para essa caracterização); e, finalmente, uma "concepção crítica" (na qual as definições estáveis tornam-se passíveis de confronto, e a partir da qual se buscam modelos teóricos capazes de localizar o fenômeno literário e, apenas nesse movimento, "defini-lo"). Deixar a cargo doleitor individual a definição implica uma boa dose de subjetivismo, (postura identificada com a matriz romântica do conceito de "Literatura"); a menos que se queira ir às raias dosolipsismo, encontrar-se-á alguma necessidade para um diálogo quanto a esta questão. Isto pode, entretanto, levar ao extremo oposto, de considerar como literatura apenas aquilo que é entendido como tal por toda a sociedade ou por parte dela, tida como autorizada à definição. Esta posição não só sufocaria a renovação na arte literária, como também limitaria excessivamente o corpus já reconhecido.
De qualquer forma, destas três fontes (a "clássica", a "romântica" e a "crítica") surgem conceitos de literatura, cuja pluralidade não impede de prosseguir a classificações de gênero e exposição de autores e obras.

O termo provém do latim litteratura, "arte de escrever, literatura", a partir da palavra latina littera, "letra".Etimologia

Alguns Conceitos

"Arte Literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles, Grécia Clássica);
A Literatura obedece a leis inflexíveis: a da herança, a do meio, a do momento." (Hipolite Taine, pensador determinista, metade do século XIX);
"A Literatura é arte e só pode ser encarada como arte." (Doutrina da arte pela arte, fins doséculo XIX);
"O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate." (Jean-Paul Sartre, filósofofrancês, século XX;
"É com bons sentimentos que se faz Literatura ruim." (André Gide, escritor francês, século XX;
"A distinção entre Literatura e as demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a forma do verbo." (LIMA, Alceu Amoroso. A estética literária e o crítico. 2. ed. Rio de Janeiro, AGIR, 1954. p 54-5.)
"A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio." (COUTINHO, Afrânio.Notas de teoria literária. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1978. p. 9-10)

Formas literárias

Poesia

Provavelmente a mais antiga das formas literárias, a poesia consiste no arranjo harmônico das palavras. Geralmente, um poema organiza-se em versos, caracterizados pela escolha precisa das palavras em função de seus valores semânticos (denotativos e, especialmente,conotativos) e sonoros. É possível a ocorrência da rima, bem como a construção em formas determinadas como o soneto e o haikai. Segundo características formais e temáticas, classificam-se diversos gêneros poéticos adotados pelos poetas.

Peças de Teatro

O teatro, forma literária clássica, composta basicamente de falas de um ou maispersonagens, individuais (atores e atrizes) ou coletivos (coros), destina-se primariamente a ser encenada e não apenas lida. Até um passado relativamente recente, não se escrevia a não ser em verso. Na tradição ocidental, as origens do teatro datam dos gregos, que desenvolveram os primeiros gêneros: a tragédia e a comédia.
Mudanças vieram: novos gêneros, como a ópera, que combinou esta forma com (pelo menos) a música; inovações textuais, como as peças em prosa; e novas finalidades, como os roteiros para o cinema.
A imensa maioria das peças de teatro está baseada na dramatização, ou seja, na representação de narrativas de ficção por atores encarnando personagens.
Elas podem ser:

Ficção em Prosa

A literatura de ficção em prosa, cuja definição mais crua é o texto "corrido", sem versificação, bem como suas formas, são de aparição relativamente recente. Pode-se considerar que o romance, por exemplo, surge no início do século XVII com Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes Saavedra.
Subdivisões, aqui, dão-se em geral pelo tamanho e, de certa forma, pela complexidade do texto. Entre o conto, "curto", e o romance, "longo", situa-se por vezes a novela.

Gêneros Literários

A linguagem é o veículo utilizado para se escrever uma obra literária. Escrever obras literárias é trabalhar com a linguagem. Os Gêneros Literários são as várias formas de trabalhar a linguagem, de registrar a história, e fazer com que a essa linguagem seja um instrumento de conexão entre os diversos contextos literários que estão dispersos ao redor do mundo.
Literatura de informação: A Literatura de Informação é um segmento do Quinhentismo, que é a denominação das manifestações literárias ocorridas em território brasileiro durante o século XVI. Além da Literatura de Informação, foi de destaque ao Quinhentismo a chamada Literatura dos Jesuítas. Iniciou-se no Brasil e durou de 1500 à 1601.